Entre pseudônimos e imaginários: a identidade feminina nas “Cartas sobre a Educação das Meninas por uma Senhora Americana”, no Século XIX

Resumo

Este artigo analisa as "Cartas sobre a educação das meninas por uma senhora americana" traduzida para o português por João Cândido de Deos e Silva, atribuída ao autor José Joaquin de Mora. A obra se apresenta como uma série de cartas enviadas por uma suposta "senhora americana", que prescreve formas de comportamento, educação e conduta social para mulheres do século XIX. O texto questiona a autoria feminina anônima, revelando as prescrições e os valores impostos às mulheres da época, visando conformá-las a uma sociedade patriarcal. A análise desvenda lapsos de autoria presentes no texto, sugerindo que a obra não tenha sido efetivamente escrita por uma mulher, mas por um autor masculino que se esconde por trás do pseudônimo feminino. Através de pronomes possessivos e outras indicações, evidencia-se a presença de uma autoria alheia ao gênero feminino, o que levanta questionamentos sobre as motivações por trás desse artifício. A relevância da obra reside não apenas em seu conteúdo prescritivo, mas também em seu impacto histórico e social. O texto foi disseminado nas escolas e recomendado às professoras como um manual de conduta para suas alunas, moldando a mentalidade feminina da época e impondo um padrão normativo de comportamento. Além disso, o artigo ressalta a associação do discurso com o catolicismo, explorando características desejadas para as mulheres, reforçando a necessidade de autoidentificação no processo de leitura. A pesquisa destaca o papel do imaginário social na consagração das prescrições da obra. O imaginário transcende para a realidade, influenciando práticas cotidianas, instituições e identidades. A análise crítica do discurso revela como o imaginário se manifesta e se perpetua na memória coletiva, configurando-se como um poderoso instrumento normativo de relações sociais. Através desse estudo, busca-se desvelar os elementos que compõem a construção histórica e identitária da mulher brasileira do século XIX, permitindo um olhar mais profundo sobre a obra "Cartas sobre a educação das meninas por uma senhora americana" e sua influência na sociedade da época.